30 dezembro 2014

O Príncipe Adil e os leões

Há muito tempo atrás e muito longe daqui, vivia um rei que tinha um filho de quem ele gostava muito e que se parecia muito com ele quando era jovem.
Um dia, o rei Azad disse ao grão vizir:
- Vamos levar meu filho à cova do leão e dizer-lhe o que se espera dele, agora que completou 18 anos.
O príncipe Adil foi chamado à presença do rei e o grão vizir assim lhe disse:
Alteza, sempre foi costume nesta nobre família, quando o herdeiro do trono chega à idade que você tem agora, que ele passe por um certo teste. Isto é para que fique estabelecido, sem nenhuma dúvida, se o príncipe está apto ou não para ser o futuro governante do nosso povo. Venha conosco e nós lhe mostraremos o lugar onde será seu teste.
O príncipe seguiu seu pai e o grão vizir até uma grande porta na parede de uma cova rochosa. Havia uma pequena grade na porta, através da qual podia-se ouvir o rugido de um leão.
- Veja, meu filho, disse o rei alisando a barba, aí dentro está um enorme leão criado na floresta. Você deve lutar com ele e submetê-lo com uma adaga e uma espada. Você pode fazer isso quando quiser. Todo homem de nossa família teve que passar por este teste antes de herdar o trono.
O príncipe olhou pela grade e empalideceu, pois o que ele viu foi de fato um leão muito grande, an-dando de um lado para o outro de uma caverna cheia de ossos. O animal tinha uma juba espessa e dentes brancos e afiados. De vez em quando, ele franzia o nariz, arreganhava os dentes e dava um rugido horripilante.
- Lutar? Submeter? Matar esta coisa? Como poderei fazer isso? O máximo que consegui até hoje foi matar um veado ou mandar meu falcão caçar um pássaro. Eu tenho certeza de que um leão deste tamanho e com toda esta força está além das minhas possibilidades, dizia o príncipe quase sem voz.
- Não tenha medo, disse o grão vizir. Você não precisa fazer isso agora. Um dia você poderá fazê-lo, quando se acostumar com a idéia. Pela graça de Allah, você vai encontrar a confiança necessária, quando tiver pensado um pouco sobre o assunto. Todos os seus antecessores o fizeram no final.
O rei sorriu e fez um sinal para que um escravo jogasse um pouco de carne para o leão, que a devo-rou com satisfação.
Depois disso, os dias se passaram e, embora o rei continuasse tratando seu filho tão gentilmente quanto antes, Adil sentia que sua tarefa pesava sobre ele e que seu pai devia estar ansioso para que matasse o leão imediatamente. Ele não conseguia sentir prazer em nada, pensando no que tinha que fazer.

Uma noite, depois de virar-se e revirar-se na cama sem conseguir dormir, ele se levantou. Vestiu-se, encheu uma bolsa com muitas moedas de ouro e foi até os estábulos reais. Acordou seu escudeiro e pediu-lhe que selasse seu cavalo favorito e que dissesse ao rei que ele ia fazer uma viagem.
A lua brilhava no céu e o príncipe se foi, sem olhar para trás, buscando uma resposta para seu pro-blema.
Na manhã seguinte, chegou à beira de um rio com prados verdejantes dos dois lados. Enquanto o cavalo bebia água, ele ouviu o som de uma flauta e logo em seguida avistou um jovem pastor levan-do carneiros para o pasto. Adil perguntou-lhe se ali por perto havia algum lugar onde ele pudesse ficar por uns dias. O pastor levou-o ao seu patrão, um homem rico que morava numa casa muito grande nas redondezas. Lá, o homem, que se chamava Haroun, convidou Adil para jantar e pergun-tou-lhe:
- De onde você vem e como estão seus rebanhos?
O príncipe respondeu com evasivas, dizendo que tivera certos problemas em casa que o obrigaram a viajar. Disse também que estava buscando uma resposta para uma questão pessoal, pedindo ao velho homem que não lhe perguntasse mais nada.
Imediatamente Haroun disse que Adil poderia ficar em sua casa quanto tempo quisesse e que ali ficassse à vontade. Seu cavalo foi levado ao estábulo e o príncipe pensou que gostaria de ficar um longo tempo naquele espaço tão tranquilo.
A cada dia descobria um lugar encantador onde se podia ouvir o som das flautas dos pastores, que naquela área eram inúmeros, pois aquela era a Terra dos Tocadores de Flauta Celestiais.
Acontece que uma noite, horrorizado, o príncipe ouviu rugidos de leões não longe da casa e contou a Haroun na manhã seguinte.
- Ah, sim, respondeu ele calmamente. Este lugar está infestado de leões. Eles caçam à noite. Fico surpreso de que você ainda não os tenha escutado. Por isso temos este alto muro em volta do jar-dim, senão eles já teriam levado toda a minha família. - E ele ria com gosto, como se tivesse dito uma piada.
O coração do príncipe encheu-se de medo. Assim que preparou seu cavalo para partir, despediu-se de Haroun agradecendo sua hospitalidade e, mais uma vez, pos-se na estrada, cavalgando o mais rápido que podia. À medida em que viajava, foi deixando para trás os verdes vales enquanto ia sur-gindo a sua frente uma árida planície arenosa onde não se via um único tufo de grama. O cavalo avançava com dificuldade, enfrentando o vento que, de vez em quando, levantava nuvens de poeira seca. Adil sabia que precisava logo encontrar água para ambos. Em silêncio, rezou para que na próxima duna surgisse um acampamento de beduínos ou um oásis pequeno.
Como em resposta a sua oração, ele viu no horizonte uma fila de tendas negras. Vários guerreiros se aproximaram, suas armas reluzindo ao sol, e o saudaram gritando "Assalamu Aleikum!". Eles o escoltaram até o Sheikh, que o recebeu calorosamente, dizendo-lhe que tinha muita honra em tê-lo como hóspede e que ele poderia ficar quanto tempo desejasse. Depois de uma deliciosa refeição de carneiro cozido, arroz com especiarias, figos e tâmaras maravilhosamente doces, o Sheikh perguntou a Adil que ventos o levavam naquela direção.
- Não me pergunte mais nada, disse o príncipe. Basta que você saiba que deixei minha casa com um problema, que espero resolver, tendo me ausentado da casa de meu pai até me sentir mais seguro de minha situação.
O Sheikh inclinou a cabeça, alisou a barba e deu uma baforada no cachimbo.
- O tempo nos dá todas as respostas, murmurou, se pudermos ser pacientes.
O príncipe sentiu que poderia ficar para sempre naquele lugar, onde, durante o dia, respirava o ar frio e fresco do deserto, caçando antílopes e comendo fartas comidas na companhia do Sheikh.
Mas um dia, depois de duas semanas de tranquilidade, o velho Sheikh lhe disse:
- Meu filho, meu povo e eu gostamos de você e admiramos o modo como se juntou a nós em nossos divertimentos. Mas somos guerreiros e temos que lutar com outras tribos. É necessário ter muita bravura pessoal para a nossa sobrevivência, por isso, gostaríamos de submetê-lo a um teste onde pudéssemos ter uma evidência do seu valor. A duas milhas ao sul desta área está uma cadeia de montanhas infestada de leões. Levante-se cedo amanhã e, depois da oração do alvorecer, pegue o melhor de nossos cavalos e com uma lança e uma espada mate um destes animais. Depois disso, arranque sua pele e traga-a para nós, assim terá provado sua valentia.
O rosto do príncipe tornou-se branco como cera e enquanto dizia boa noite ao Sheikh, tomado pelo medo, tinha certeza de que não poderia enfrentar aquelas criaturas selvagens.
- Deus do céu, ele se dizia ao abandonar o acampamento antes da última refeição da noite, parece que encontro leões em qualquer lugar para onde vou. Não posso entender, afinal, eu saí de casa justamente para evitá-los.
Viajou muito tempo pela noite estrelada. De manhã chegou a uma bela região onde as flores selvagens cresciam nas montanhas. Avistou ao longe um magnífico palácio, o mais belo que ele jamais vira. Era feito de uma pedra rosada, com colunas de lápis lazuli e balcões de madeira esculpida e pintada de várias cores. Havia fontes nos jardins a sua volta, pássaros que cantavam em árvores cheias de flores, e muitos pavilhões cobertos de jasmins e rosas docemente perfumadas.
- Parece um paraíso na terra! disse Adil para si mesmo enquanto se aproximava do palácio. Nos portões, guardas levaram-no ao quarto de hóspedes, onde tomou um banho e vestiu roupas limpas, ajudado por servos sorridentes. Depois, foi conduzido à presença do Emir, um homem de barbas cinzentas que lhe perguntou o que o trouxera ali. Junto dele estava sua filha Perizade, que tinha lindos olhos amendoados e um cabelo negro como a cauda de um pássaro.
- Minha situação é tal que não posso falar dela, tentou responder o príncipe, evitando olhar para a adorável Perizade, por quem ele tinha imediatamente se apaixonado.
- Eu deixei meu país porque tinha um problema para resolver.
- Eu entendo, disse o Emir balançando a cabeça. E começou a falar de outros assuntos.
Depois da refeição, o Emir mostrou a Adil o palácio por dentro em toda sua magnificência. Escadas de mármore levavam a aposentos cheios de móveis de madeira de várias partes do mundo. As paredes e o teto eram cobertos de mosaicos de turquesa e ouro, afrescos e espelhos. As janelas eram de vidro transparente pintado em cores delicadas e os tapetes macios como seda, tão bem tecidos e mostrando paisagens tão harmoniosas que quase não pareciam ter sido feitos por mãos humanas.
O Emir o levou finalmente a seu quarto para que ele pudesse descansar e lhe disse que ele ficasse ali o quanto lhe fosse possível ficar.
Sozinho, olhando todo aquele esplendor a sua volta, Adil pensou que naquele lugar ele poderia ficar o resto de sua vida.
Muitos dias se passaram. A princesa Perizade encantava-se em poder mostrar ao príncipe os jardins em várias horas diferentes. Um dia, ao entardecer, ele a ouvia cantar e tocar alaúde com extrema graça e perfeição. Foi então que escutou um som que o arrepiou dos pés à cabeça.
- Pare, gritou ele, que som foi este?
- Não ouvi nada, ela respondeu um pouco aborrecida pela interrupção. e continuou a tocar.
- Foi ali, perto de uns arbustos. Parecia o rugido de um leão!
Ela riu e lhe disse:
- É apenas Rustum, nosso guardião, como o chamamos. É o animal de estimação de toda a corte. A esta hora ele vigia nossos jardins. Eu o conheço desde que era um filhotinho e à noite ele dorme à porta do meu quarto.
Nesta noite, completamente cheio de medo, o príncipe quase não tocou na comida. Quando subiu as escadas acompanhado pelo Emir, quase saiu correndo ao ver o enorme leão parado à porta do seu quarto.
- Veja que honra, disse o Emir. O bom Rustum está esperando para levá-lo para a cama! Ele não faz isso com muita gente, não. Apenas se aborrece se vê que alguém tem medo dele. Mas, na realidade, é extremamente manso.
- Eu tenho medo dele, sussurrou o príncipe, realmente tenho muito medo.
Mas o Emir pareceu não escutá-lo e se despediu, deixando Adil com o leão. O príncipe abriu a porta e, o mais rápido que pôde, fechou-a atrás de si. Não conseguiu dormir a noite inteira. Quando se levantou pela manhã, começou a pensar que seria melhor voltar para casa. Havia tantos leões no seu caminho que seria melhor lutar com o leão na cova e acabar logo com isso, em vez de ficar fugindo a vida toda. Foi até o Emir e lhe disse:
- Peço permissão para partir e enfrentar meu próprio problema a minha maneira, ou então nunca estarei em paz comigo mesmo. Sou um covarde e quero deixar de sê-lo, em honra de meu pai. Sou o filho do rei Azad e fugi do dever que todos os homens de minha família devem realizar. Estou envergonhado e sei que nunca poderei pedir a mão da princesa Perizade enquanto não encarar meu destino e lutar com o leão naquela cova.
- Muito bem falado, meu filho, disse o Emir. Desde o primeiro momento eu soube quem você era, pois você se parece muito com seu pai quando jovem. Sempre respeitei e admirei o rei Azad. Vá, lute com o leão e eu lhe darei minha filha em casamento.
O príncipe montou no seu cavalo e galopou até o acampamento das tendas pretas.
- Benvindo, príncipe Adil, disse o Sheikh beduíno, conheci o seu pai quando tínhamos ambos a idade que você tem agora. Eu pude saber quem você era pela enorme semelhança que você tem com ele, aliás, maior agora de que no dia em que você chegou aqui.
Adil contou-lhe sobre sua intenção de voltar para casa, o que muito agradou ao Sheikh.
Depois de descansar aquela noite, o príncipe seguiu viagem e descobriu, no caminho, que estava com muita saudade de casa, com leão e tudo e que mal podia esperar para dizer a seu pai que estava preparado para enfrentar aquela criatura dentro da cova.
Logo chegou à terra dos tocadores de flauta celestiais. Quando encontrou o dono daqueles campos no pátio de sua casa, ele lhe disse:
- Quando cheguei aqui pela primeira vez, era um covarde. Agora estou pronto para lutar e fazer o que meus antepassados fizeram, seja qual for o resultado. Tenho confiança em Allah, o compassivo.
- Que assim seja, disse o velho homem. Eu sabia que você - sendo o verdadeiro filho de seu pai, que foi meu companheiro quando estudamos juntos - no tempo certo, iria enfrentar suas dificuldades. Vá e que Allah esteja com você!
Algum tempo depois, Adil chegou a seu reino e pediu imediatamente ao grão-vizir para levá-lo à cova do leão. O velho rei o abraçou muito feliz e os três se dirigiram para a caverna.
A espada e a adaga que o príncipe carregava brilhavam ao sol. Então, um escravo abriu a enorme porta e Adil entrou corajosamente.
O leão começou a rugir, levantou-se e andou na direção do príncipe com a enorme mandíbula aberta. O príncipe olhou para aquele animal sem medo, armas na mão, enquanto o rei, o vizir e o escravo ficaram em silêncio, observando. O leão deu um outro rugido, mais forte que o anterior e chegou perto dele. Então, para o espanto do príncipe, o monstro pôs-se a esfregar sua cabeça contra seus joelhos e lambeu suas botas como um cão amestrado.
- Agora você pode ver, disse o grão-vizir, que este leão é tão dócil quanto um escravo dedicado e não faz mal a ninguém. Você passou no teste por ter entrado na sua toca. A prova do seu valor está completa. Agora você é digno de ser o nosso futuro rei. Louvado seja Allah!
O jovem mal podia acreditar no que tinha acontecido. Quando saiu dali, o leão veio junto com ele, andando a seu lado, até que o escravo o levou de volta para a cova.
Houve muita festa no palácio e no dia seguinte as comemorações se estenderam para cada casa na cidade. Seguindo a tradição, o rei distribuiu moedas de ouro e prata para o povo reunido no grande pátio sob o balcão real.
Adil contou a seu pai sobre seu desejo de casar-se com a princesa Perizade e o rei mandou um mensageiro buscá-la.
Para Adil, o tempo que a comitiva demorou a trazer sua amada pareceu-lhe uma eternidade. Ela chegou acompanhada de parentes e amigos, todos vestidos com as mais belas roupas de casamento. Até o fim de seus dias ele guardou na memória a visão que teve da princesa, cavalgando um cavalo branco árabe, com roupas da mais pura seda e jóias de beleza inigualável.
As festividades do casamento duraram sete dias e sete noites. Assim, eles foram muito felizes e, quando Adil tornou-se rei, fez uma inscrição com letras de ouro no chão de seu quarto de estudos particular que dizia:

Nunca fuja de um leão.


Enviado por Thais Helena.

25 dezembro 2014

A Princesa da Água da Vida


Era uma vez, quando não havia tempo, no País do Lugar Nenhum, uma pobre garota chamada Raida, que vivia solitária em uma pequena cabana.
Um dia, caminhando pelo bosque, Raida viu que um enxame de abelhas havia abandonado sua colméia, e decidiu recolher o mel.
"Levarei este mel ao mercado e o venderei. Com o dinheiro que conseguir procurarei melhorar minha vida", disse para si mesma.
Raida correu para casa e voltou com um pote, enchendo-o de mel. Ela não sabia no entanto que a causa de sua pobreza era um gênio maléfico que tentava por todos os meios impedir que ela tivesse êxito em qualquer coisa.
O gênio acordou quando alguma coisa lhe disse que Raida estava começando a fazer algo de útil. Ele correu ao lugar onde ela se encontrava com a intenção de causar-lhe problemas. Logo que viu Raida com o mel o gênio se transformou em um galho de árvore e empurrou seu braço, de maneira que o pote caiu e se quebrou, entornando todo o mel. O gênio, ainda sob a forma de um galho, ria-se com satisfação, balançando-se de um lado para outro.
"Isto a deixará furiosa", disse para si mesmo.
Mas ela apenas contemplou o mel e pensou:
"Não importa, as formigas vão comer o mel, e talvez algo surja disso."
Raida tinha visto uma fileira de formigas cujas exploradoras já estavam experimentando o mel para ver se lhes seria útil. Quando começou a atravessar a floresta, no caminho de volta para a sua cabana, Raida notou que um cavaleiro estava vindo em sua direção.
Quando estava apenas a alguns metros dela, o homem levantou o chicote displicentemente e, ao passar, bateu num galho. Raida viu que era uma árvore de amoras, e que o golpe tinha feito com que frutas maduras caíssem no chão. Ela pensou:
"Boa idéia. Recolherei as amoras e as levarei ao mercado para vendê-las. Talvez algo surja disso."
O gênio a viu juntando as frutas e riu-se por dentro. Quando ela terminou de encher seu cesto ele se transformou em um burro e a seguiu silenciosamente pelo caminho que levava ao mercado.
Quando Raida se sentou para descansar, o gênio sob a forma de burro aproximou-se, esfregando o focinho em seu braço. Raida bateu-lhe no focinho, e então de repente a horrível criatura se jogou sobre o cesto de amoras, esmagando-as até a polpa. O suco espalhou-se pelo caminho, e o falso burro afastou-se galopando alegremente entre os arbustos.
Raida olhou para as frutas com desânimo. Nesse momento no entanto a rainha estava passando por ali, a caminho da capital.
— Detenham-se imediatamente! — ordenou aos carregadores da liteira. — Essa jovem perdeu tudo. Seu burro esmagou as frutas e fugiu. Ela estará perdida se não a ajudarmos.
Assim foi que a rainha convidou Raida a subir na sua liteira, e rapidamente se tornaram amigas. A rainha deu uma casa a Raida, e logo ela se converteu em uma próspera comerciante, por seus próprios méritos.
Quando o gênio viu como as coisas estavam indo bem para Raida, deu uma boa examinada na casa para ver o que poderia fazer para arruína-la. Ele percebeu que todas as mercadorias eram guardadas em um armazém atrás da casa. De modo que botou fogo na casa e no armazém, que se queimaram até os alicerces em menos tempo do que se leva para contar.
Raida saiu da casa correndo quando sentiu o cheiro da fumaça, e contemplou as ruínas com pesar. Então percebeu que uma fila de pequenas formigas estava se formando. Elas carregavam grão a grão sua reserva de milho, que estivera embaixo da casa, para outro local de maior segurança. Para ajudá-las, Raida ergueu uma grande pedra que cobria o formigueiro, e debaixo dela brotou uma fonte de água. Enquanto Raida a experimentava as pessoas da cidade iam se juntando à sua volta, exclamando:
— A água da Vida! Isto é o que foi profetizado!
Elas contaram à Raida como havia sido profetizado que, um dia, depois de um incêndio e de muitos desastres, uma fonte seria encontrada por uma jovem que não se afligia com as calamidades que lhe aconteciam. Esta seria a última fonte da vida.
E foi assim que Raida se tornou conhecida como a Princesa da Água da Vida, da qual até hoje é a guardiã. Essa água pode ser bebida para dar imortalidade àqueles que a encontram, por não se impressionarem pelas calamidades que lhes possam ocorrer.