26 fevereiro 2015

A Jovem que Voltou da Morte

Em tempos passados, vivia uma jovem muito bela, filha de um bom homem, mulher entre as mulheres, única em seu encanto e na delicadeza de sua índole.
Quando estava em idade de casar, três jovens, cada qual, aparentemente, com grandes qualidades e promessas, pediram sua mão.
Havendo decidido que todos tinham as mesmas condições, o pai deixou a escolha para a jovem.
Mas os meses se passaram e a jovem não parecia decidir-se. Um dia, repentinamente, adoeceu e morreu em poucas horas.
Os três rapazes, unidos em sua dor, levaram seu corpo ao cemitério e a enterraram em profundo silêncio e tristeza.
O primeiro jovem fez do cemitério seu lar, passando ali suas noites, em dor e meditação, incapaz de compreender o porquê do destino que a havia levado.
O segundo jovem se lançou aos caminhos e vagou pelo mundo em busca de conhecimento, como um faquir.
O terceiro dedicou seu tempo a consolar o entristecido pai.
Um dia, o jovem que se convertera em faquir chegou a um lugar onde residia um homem famoso por suas misteriosas artes. Por ser um buscador de conhecimento, ao se apresentar à porta do sábio foi admitido à sua mesa.
Quando estavam a ponto de começar a comer, uma criança pequena desandou a chorar. Era o neto do sábio. Este levantou o menino e o arrojou ao fogo.
O faquir deu um salto e se dispôs a abandonar a casa, gritando:
- Demônios infames, eu já tive a minha parte nas penas deste mundo, mas este crime ultrapassa os registrados em toda história.
Não pense nada sobre isto - disse o sábio - pois as coisas simples parecem diferentes quando há ausência de conhecimento.
Dizendo isto, recitou uma fórmula, balançou um estranho emblema e o menino saiu caminhando do fogo, sem nenhum ferimento.
O faquir memorizou as palavras e a cena e na manhã seguinte, estava a caminho do cemitério onde havia enterrado sua amada.
Em menos tempo que se leva para contar, a donzela estava de pé, diante dele, completamente de volta à vida.
Voltou para a casa de seu pai, enquanto os jovens disputavam entre si qual deles havia merecido sua mão.
O terceiro disse:
- Estive aflito por ela e, como um esposo e genro, aqui vivi, consolando o pai e ajudando-o a sustentar-se.
_ Estive vivendo no cemitério, - disse o primeiro - mantendo contato com ela através de minhas vigílias, cuidando das necessidades de seu espírito e dando-lhe apoio.
- Ambos ignoram que fui eu quem de fato viajou pelo mundo em busca de conhecimento, e quem finalmente lhe devolveu a vida - disse o segundo.
Recorreram à própria jovem, que disse:
- Aquele que encontrou a fórmula para me devolver à vida é um homem humanitário; aquele que velou por meu pai, agiu como um filho para ele; aquele que ficou ao lado do meu túmulo, agiu como um amante. Com ele me casarei.

Extraído do livro O Sufismo no Ocidente, Ed. Dervish.

21 fevereiro 2015

A sopa de pato

Certo dia um camponês foi visitar a Nasrudin, atraído pela grande fama deste e desejoso em ver de perto o homem mais ilustre do país. Ele levou como presente um magnífico pato.
O Mullá, muito honrado, convidou o homem a jantar e pernoitar em sua casa. Comeram uma deliciosa sopa preparada com o pato. Na manhã seguinte, o camponês retornou a sua vila, feliz de haver passado algumas horas com um personagem tão importante.
Alguns dias mais tarde, os filhos deste camponês foram a cidade e em seu regresso passaram pela casa de Nasrudin.
- Somos filhos do homem que lhe presenteou um pato – se apresentaram.
Foram recebidos e servidos com sopa de pato.
Uma semana depois, dois jovens chamaram a porta do Mullá.
- Quem são vocês?
- Somos os vizinhos do homem que lhe presenteou um pato.
O Mullá começou a lamentar haver aceitado aquele pato. Sem mais delongas, fechou a cara e convidou seus hospedes para comer.
Daí a oito dias, uma família completa pediu hospitalidade ao Mullá.
- E vocês quem são?
- Somos os vizinhos dos vizinhos do homem que lhe presenteou um pato.
Então o Mullá fez que se alegrara e os convidou a comer. Em pouco tempo, apareceu com uma enorme sopeira cheia de água quente e serviu cuidadosamente os pratos de seus convidados. Ao provar o liquido, um deles exclamou:
- O que é isto, nobre senhor? Por Deus que nunca havíamos provado uma sopa tão sem graça!
Mullá Nasrudin se limitou a responder:
- Esta é a sopa da sopa da sopa de pato que com gosto ofereço a vocês, os vizinhos dos vizinhos dos vizinhos do homem que me presenteou o pato.