08 abril 2010

As Aparências

Conta o sufi Mullá Nasrudin que certa vez visitou a uma casa de banhos pobremente vestido, e foi tratado de maneira regular a mal e ao sair deixou uma moeda de ouro de gorjeta.

Na semana seguinte foi ricamente vestido e se desdobraram para atendê-lo... deixou uma moeda de cobre, dizendo:

- Esta é a gorjeta pelo tratamento da semana passada e a da semana passada, pelo tratamento de hoje.

A Mulher Perfeita

Nasrudin conversava com um amigo.

- Então, nunca pensou em casar-se?

- Sim pensei – respondeu Nasrudin. – Em minha juventude, resolvi buscar a mulher perfeita. Cruzei o deserto, cheguei a Damasco, e conheci uma mulher muito espiritual e linda; porém ela não sabia nada das coisas deste mundo.

Continuei viajando e fui a Isfahan; ali encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e o espiritual, porém não era bonita.

Então resolvi ir até o Cairo, onde comi na casa de uma moça bonita, religiosa, e conhecedora da realidade material.

- E por que não casaste com ela?

- Ah, companheiro meu! Lamentavelmente ela também queria um homem perfeito.

Vivo ou Morto

O Mullá estava pensando em voz alta.

- Como sei se estou vivo ou morto?

- Não sejas estúpido – disse sua esposa – se estivesses morto, teus membros estariam frios.

Pouco tempo depois, Nasrudin se encontrava em um bosque cortando lenha. Era pleno inverno. De repente se deu conta de que suas mãos e pés estavam frios.

Sem dúvida estou morto – pensou – de modo que devo interromper meu trabalho. Os cadáveres não saem por aí caminhando, se deitou na relva.

Logo chegou uma matilha de lobos e começou a atacar o asno de Nasrudin, que estava preso a um arbusto.

- Vamos, continuem, aproveitem de um homem morto – disse Nasrudin sem mover-se – porem se estivesse vivo, não permitiria estas liberdades com meu asno!

O Custo de Aprender

Nasrudin decidiu que poderia beneficiar-se aprendendo algo novo e foi visitar a um renomado mestre de música:

- Quanto você cobra para ensinar-me tocar flauta? – perguntou Nasrudin.

- Três peças de prata no primeiro mês; depois uma peça de prata por mês – respondeu o mestre.

- Perfeito! – disse Nasrudin; - começarei pelo segundo mês.

07 abril 2010

O Urso

Um rei que gostava da companhia de Nasrudin, e também da caça, lhe ordenou que lhe acompanhasse na caça ao urso. Nasrudin estava aterrorizado.

Quando Nasrudin voltou a sua aldeia, alguém lhe perguntou: como foi a caça?

- Maravilhosa.

- Quantos ursos encontrou?

- Nenhum.

- Então, por que diz que foi maravilhosa?

- Quando se está caçando ursos, e você sou eu, não ver nenhum urso é uma experiência maravilhosa.

O Contrabandista

Nasrudin cruzava a fronteira todos os dias, com as cestas de seu burro carregadas de palha. Como admitia ser um contrabandista, quando voltava a casa a noite os guardas da fronteira lhe revistavam uma e outra vez. Revistavam sua pessoa, reviravam a palha, a submergiam em água e inclusive a queimavam de vez em quando.

Entretanto, a prosperidade de Nasrudin aumentava visivelmente.

Um dia se aposentou e foi viver em outro país, onde, alguns anos mais tarde, encontrou os guardas aduaneiros.

- Agora podes me dizer, Nasrudin, o que passavas de contrabando, que nunca conseguimos descobrir?

- Burros - respondeu Nasrudin.

As Armas do Mullá

Mullá Nasrudin iniciou uma viagem até terras distantes, motivo pelo qual levou uma espada e uma lança. No caminho, um bandido cuja única arma era um bastão, atacou e roubou seus pertences.

Quando chegou a cidade mais próxima, o Mullá contou sua desgraça aos amigos, que lhe perguntaram como havia acontecido que ele, estando armado com uma espada e uma lança, não pudera dominar a um ladrão armado com um modesto bastão.

Ele replicou: O problema foi precisamente que eu tinha as duas mãos ocupadas, uma com a espada e a outra com a lança. Como vocês crêem que eu poderia sair vitorioso?

O Erudito

Nasrudin conseguiu trabalho de barqueiro. Certo dia transportando a um erudito, o homem lhe pergunta:

- Você conhece a gramática?

- Não, em absoluto – responde Nasrudin.

- Bom permita-me dizer-lhe que você perdeu a metade de sua vida – replica com desdém o erudito.

Pouco depois o vento começa a soprar e o barco está a ponto de ser tragado pelas ondas. Justo antes de afundar, Nasrudin pergunta a seu passageiro:

- Você sabe nadar?

- Não! – responde, aterrorizado o erudito.

- Bem, permita-me dizer-lhe que você perdeu toda a sua vida!