05 abril 2009

A Parábola dos Filhos Cobiçosos

Havia uma vez um lavrador generoso e muito trabalhador que tinha vários filhos, todos preguiçosos e cheios de cobiça. Em seu leito de morte, o velho lavrador lhes disse que encontrariam seu tesouro se viessem a cavar num lugar determinado. Assim que o lavrador morreu, seus filhos correram para o campo, que escavaram de ponta a ponta, com ânsia e desespero crescentes ao não encontrar o ouro no trecho indicado.

Não encontraram o que buscavam. Imaginando então que por ser muito generoso, o pai distribuíra seu ouro em vida, desistiram da busca. Por fim, pensaram que, já que a terra fora revolvida, poderiam plantar ali algum cereal. Assim plantaram trigo, que cresceu e deu abundante safra. Eles venderam o produto da colheita e tiveram um ano de prosperidade.

Concluída a colheita, os filhos do lavrador pensaram novamente na remota possibilidade de que o ouro talvez lhes tivesse passado despercebido. E foram cavar de novo em suas terras, mas sem resultado.

Transcorridos alguns anos eles acostumaram-se a semear e colher, seguindo o curso das estações, algo que não tinham aprendido antes.
Foi então que compreenderam a razão pela qual seu pai usara aquele expediente para discipliná-los, e se converteram em lavradores honestos e contentes com sua condição. Finalmente se deram conta de que possuíam riqueza suficiente para não precisarem se interessar pelo tesouro escondido.

Dá-se o mesmo com o ensinamento acerca da maneira de entender o destino humano e o significado da vida. O professor, ao defrontar-se com a impaciência, a confusão e ansiedade dos estudantes, deve encaminhá-los para uma atividade que ele sabe ser instrutiva e benéfica para eles, mas cuja verdadeira função e objetivo com frequência lhes permanecem ocultos devido a sua própria inexperiência.



A Parábola dos Filhos Cobiçosos

Esta história que enfatiza a afirmação de que uma pessoa pode desenvolver certas faculdades a despeito de seu esforço para desenvolver outras é, de maneira inusitada, muito conhecida. Isto talvez seja devido a ser prefaciada assim:
"Aqueles que a repetem obterão mais do que sabem".

Ela foi publicada pelo frade Roger Bacon (que citava a filosofia sufi e a ensinou em Oxford, de onde foi afastado por ordem do Papa), e pelo químico Boerhaave, que viveu no século XVII.

A presente versão é atribuída ao sufi Hasan de Basra, que viveu há quase doze séculos.



Extraído de
'Histórias dos Dervixes'
Idries Shah
Nova Fronteira 1976

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